Richard R. Springer

Lilian Sarrouf

Consultora Técnica do COMASP

DE UNS ANOS PARA CÁ, AS CONSTRUTORAS TÊM IMPLEMENTADO AÇÕES DE SUSTENTABILIDADE TAIS COMO CANTEIROS SUSTENTÁVEIS, GESTÃO DE RESÍDUOS, MONITORAMENTO DA EMISSÃO DE CARBONO… A PORCENTAGEM DE CONSTRUTORAS ESTÁ SATISFATÓRIO OU AINDA HÁ UM LONGO CAMINHO A PERCORRER?

Lilian Sarrouf
Ainda temos um caminho a percorrer, não entendo que seja longo pois a velocidade com que as construtoras estão despertando para as questões de sustentabilidade tem se acelerado. Muitos dos temas relacionados à construção tem sido disseminados e práticas estão se consagrando. As construtoras passaram da fase do “não sei do que se trata”, hoje se encontram na fase “preciso saber como fazer para implantar” O cliente já deseja diferenciais nos produtos não apenas nas questões de consumo de água ou energia de sua unidade, mas busca conforto ambiental. Também busca nas empresas uma postura sócio ambiental mais ativa.

EXISTE ALGUM CERTIFICADO OU SELO DE QUALIDADE, QUE MONITORE A EMISSÃO DE POLUENTES DOS MATERIAIS FABRICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL? HÁ COMO RASTREAR ISSO EM TODA A CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO DE UM EDIFÍCIO? QUAL A DIFICULDADE?

Lilian Sarrouf
Não temos nenhuma forma de monitoramento sobre emissão de poluentes de materiais, e consequentemente sua rastreabilidade. Temos sim algumas certificações que estão iniciando nesta questão, exigindo que seja apresentada informações sobre emissões de alguns materiais. Mas ainda é muito pouco. Algumas ações governamentais tem explorado os temas de análise de ciclo de vida, emissões, energia incorporada, mas ainda são ações que estão iniciando. É preciso avançar na discussão.

A LEI Nº 14.459 DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, QUE DISPÕE SOBRE A INSTALAÇÃO DE SISTEMA DE AQUECIMENTO DE ÁGUA POR ENERGIA SOLAR, ESTÁ EM VIGOR DESDE 2007. PORÉM, POUCO SE VÊ EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS COM AS PLACAS SOLARES INSTALADAS. JÁ EM BELO HORIZONTE, ESSE É UM DIFERENCIAL PARA A AQUISIÇÃO DE UM APARTAMENTO. QUAL A SUA OPINIÃO A RESPEITO?

Lilian Sarrouf
Qualquer solução “sustentável” a ser adotada deve levar em conta a especificidade do empreendimento e sua localização. As condições climáticas de Belo Horizonte e de São Paulo são diferentes. Enquanto Belo Horizonte há a predominância de edifícios de, em média, 15 andares, São Paulo tem edificações mais altas. Em São Paulo temos outros limitantes como código de obras e outras legislações conflitantes com o uso do aquecimento solar. Sempre defendo a posição que obrigar o uso desta ou daquela solução não é o melhor caminho. Temos que buscar o melhor desempenho ambiental e isto é obtido com a escolha correta de um conjunto de soluções. Melhor se a legislação incentivasse o desempenho ambiental e não ser prescritiva obrigando esta ou aquela tecnologia, mesmo porque o que é bom hj pode ser obsoleto num curto espaço de tempo.

HÁ ALGUMA NORMATIZAÇÃO EM ANDAMENTO SOBRE O SISTEMA FOTOVOLTAICO?

Lilian Sarrouf
As normas em desenvolvimento são mais direcionadas ao produto “painel fotovoltaico” e seus componentes. Há também ações do setor de fotovoltaico para a capacitação de profissionais. Tudo isto é muito importante, mas precisamos pensar em desenvolver normas voltadas ao sistema predial com uso de energias renováveis, entre elas o fotovoltaico.

ALÉM DO REAPROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA, REÚSO DE ÁGUAS CINZAS, METAIS COM RESTRITORES DE VAZÃO, BACIAS DE DUPLO FLUXO, LAVA-RODAS… ESGOTAMOS TODAS AS POSSIBILIDADES DO USO RACIONAL DA ÁGUA OU AINDA HÁ MAIS AÇÕES QUE PODERIAM SER IMPLEMENTADAS? QUAIS?

Lilian Sarrouf
A principal ação a meu ver é, antes de tudo, “planejar” ! Analisar o empreendimento ou a obra, fazer levantamento da oferta e demanda de água, elaborar um balanço hídrico. Passando por estas fases fica claro o que será eficiente ou não fazer. Planejar inclui a gestão, a gestão tecnológica e a gestão do usuário. As vezes, medir, monitorar, conscientizar são ações que contribuem em muito para a conservação da água. De nada adianta um empreendimento sustentável se seu usário não for sustentável.

EMBORA EXISTAM MUITOS EDIFÍCIOS COM O SISTEMA DE REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA OU REÚSO DE ÁGUAS CINZAS IMPLEMENTADO, HÁ ESTUDOS QUE COMPROVAM QUE SÃO INEFICIENTES PODENDO COLOCAR A SAÚDE DO USUÁRIO EM RISCO. VOCÊ ACREDITA QUE A NORMATIZAÇÃO VAI ELIMINAR QUE O SISTEMA SEJA CONSTRUÍDO E MANUSEADO INCORRETAMENTE?

Lilian Sarrouf
Sim, estamos buscando isto na elaboração da norma de uso de fontes alternativas para uso não potável em edificações. Precisamos fazer uma análise técnica e econômica dos sistemas, considerando a implantação, operação, manutenção e futura modernização. Além disto, outros fatores devem ser considerados: consumo de energia, geração de resíduos e principalmente como manter a qualidade da água.

ALGUNS EMPREENDIMENTOS SÃO ENTREGUES COM A INFRAESTRUTURA PARA UM EMPREENDIMENTOS MAIS SUSTENTÁVEL (PREVISÃO PARA PLACAS SOLARES, AGUA DE REUSO E ETC). APÓS A ENTREGA OS CONDOMÍNIOS ESTÃO ABRAÇANDO ESTA IDEIA E UTILIZANDO A INFRAESTRUTURA DEIXADA PELA CONSTRUTORA?

Lilian Sarrouf
Alguns sim, outros não …. da mesma forma que alguns condomínios estão sendo entregues com sistemas de reuso em funcionamento e depois são desligados. O “insucesso” está diretamente ligado à escolha da solução. Se os sistema de placas solares for dimensionado adequadamente e for a melhor opção energética ele será usado. Mas se ele não for viável ao longo de sua vida útil, ele não será implantado.

EXISTE A POSSIBILIDADE DE MELHORAR OS EMPREENDIMENTOS ANTIGOS E TORNA-LOS MAIS SUSTENTÁVEIS! VOCÊ ACREDITA QUE ESTE SERÁ UM BOM MERCADO DE ATUAÇÃO PARA OS PRÓXIMOS ANOS?

Lilian Sarrouf
Sim, com certeza. Todo cidadão quer viver num ambiente melhore o mercado pode oferecer diferentes soluções para isto. Quando falamos em mudanças climáticas não podemos pensar apenas em “não emitir mais gases” ou “projetar considerando que a temperatura vai aumentar mais dois graus” A “adaptação do ambiente construído” é tão importante quanto o que fazer no novo. Como adaptar nossas cidades, nossos edifícios para um regime mais intenso de chuvas ou temperaturas mais altas? Em breve numa reunião de condomínio, não será discutido apenas se a Fachada do prédio será pintada ou não, mas sim, se a pintura da fachada irá ajudar a reduzir o calor dos apartamentos, sua durabilidade, se a tinta é autolimpante ou se contém produtos tóxicos.

EM SUA DISSERTAÇÃO, VOCÊ ABORDA A QUESTÃO DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL NA CADEIA PRODUTIVA. COMENTE UM POUCO SOBRE O QUE PODERIA SER FEITO NO MODELO CONSTRUTIVO TRADICIONAL COM VISTAS À PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

Lilian Sarrouf
Preservar os recursos se inicia com um bom projeto, escolha dos materiais, execução da obra, o uso, a operação e a manutenção. Se eliminarmos dos modelos tradicionais o desperdício, o retrabalho e produtos de má qualidade já conseguiremos reduzir muito o impacto ambiental. Um bom projeto e a gestão eficiente em todas as fases é fundamental !

Lilian Sarrouf:

Engenheira Civil pela Escola de Engenharia Mauá, Administradora de Empresas pelo Instituto Mackenzie, Mestre em gestão integrada de meio ambiente e segurança e saúde pelo SENAC – SP.

Atua como consultora nas áreas de Sistemas de Gestão Empresarial, Qualidade e Meio Ambiente.

Consultora Técnica do COMASP – Comitê do Meio Ambiente, Segurança e Produtividade do SindusConSP, Consultora da CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção

Coordenadora da CE-002: 146.004 – Comissão de Estudo de Conservação de Água em Edificações da ABNT.
Docente no MBA da Construção da Fundação Getúlio Vargas, no curso de pós graduação em Construção Sustentável no SENAC SP, Instrutora no SindusConSP e na Universidade Secovi

Coordenadora do Curso Gestão em Sustentabilidade do SindusConSP.