Richard R. Springer

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

Engenheira

Fale um pouco sobre a sua trajetória no ramo do Meio Ambiente, sua formação, e experiências que adquiriu ao longo de sua carreira:

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

Conselheira do GBC Brasil, Conselheira do Muda o Presente, sócia-diretora da Infinitytech, mestre em Hidráulica e Saneamento pela USP – EESC, com MBA Executivo Internacional na FIA. Atuo há mais de 23 anos no setor de águas e efluentes, fui diretora da Acciona Agua no Brasil, Consultora da SAUR (2°maior operadora Francesa), na Degremont Tratamento de Águas (atual Suez), na CAVO Serviços e Meio Ambiente e responsável pela área de Saneamento Industrial da Construtora Camargo Corrêa. Desde 2008 atuo nos comitês técnicos de água do GBC Brasil e do CBCS (Conselho Brasileiro da Construção Sustentável), fui coordenadora das novas Normas ABNT de conservação de água e de uso de fontes alternativas não potáveis em edificações. Uma das responsáveis pela elaboração do Guia de Pegada Hídrica para o setor de edificações.

Como surgiu a InfinityTech?

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

A Infinitytech Engenharia e Meio Ambiente nasceu em 2009, quando a construção sustentável começava a ganhar relevância no mercado brasileiro, e sua fundadora Virgínia Sodré percebeu o valor e a importância de contribuir com sua expertise para a gestão da água neste setor.

A busca por soluções inovadoras sempre foi um diferencial da empresa, a Infinitytech chegou apresentando para o mercado de edificações uma visão sistêmica e integrada da água. No primeiro ano de vida, a empresa tornou-se membro do Green Building Council Brasil, ONG que fomenta a construção sustentável e neste momento foi criado pela empresa o primeiro curso de uso racional da água para o setor da construção sustentável no Brasil, como uma forma de disseminar conhecimento para o setor.

 

Foram inúmeras palestras e eventos nacionais e internacionais que participamos, com o mesmo propósito, criar metodologias inovadoras de trabalho, trazer valor para a gestão da água dos nossos clientes assegurando eficiência hídrica associada a segurança sanitária.

Quais os principais fatores a serem considerados para a elaboração de um projeto que contribua para a “pegada hídrica”?

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

A pegada hídrica de uma edificação considera não apenas o uso direto da água, mas também impactos indiretos e demais apropriações do recurso. Ou seja, são contabilizadas tanto atividades e processos que ocorrem efetivamente em canteiro de obra (uso de água para cura de concreto, preparo de argamassas, testes hidrostáticos), como o consumo para produção dos materiais empregados na construção e a água utilizada pelos usuários da edificação durante sua vida útil. Desta forma, deve-se pensar desde a concepção da edificação, a adoção de materiais e técnicas construtivas que contribuam para o uso eficiente da água, e da mesma forma, durante a operação da edificação, utilizar de medidas de conservação de água com a utilização de metais hidrossanitários mais eficientes e mudanças nos padrões de consumo de água dos usuários.

Na atualidade, qual o principal desafio para os profissionais que atuam na área de sustentabilidade?

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

Um dos principais gargalos é a mudança de paradigmas estabelecidos no mercado. A utilização de novas técnicas de compensação ambiental pode esbarrar na falta de conhecimento dos profissionais do mercado, que optam por seguir caminhos tradicionais já estabelecidos. Outro ponto, são as barreiras legais. Os dispositivos legais dos municípios têm se atualizado para fomentar o desenvolvimento sustentável nas cidades. No entanto muitos destes dispositivos estão engessados em algumas técnicas, não permitindo a inserção de novos dispositivos. A exemplo, a Lei de Quota Ambiental do Município de São Paulo, que apesar de ser um marco referencial legal na sustentabilidade do município, possui limitações quanto as técnicas que podem ser utilizadas no controle do escoamento superficial. Com isto o empreendimento fica restrito a utilização de medidas estruturais em drenagem, não favorecendo a infiltração e permeabilidade para recarga dos mananciais subterrâneos.

É urgente a necessidade por soluções mais resilientes, que irão substituir as infraestruturas tradicionais como os reservatórios de detenção (piscininhas), utilizando de técnicas de manejo de águas pluviais que visam a manutenção da permeabilidade do solo e recarga do manancial subterrâneo, reduzindo o impacto ambiental do entorno.

Qual a perspectiva de internalização da gestão de água, de forma estrutural nas empresas?

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

As organizações tem incorporado em seu planejamento estratégico a busca pela incorporação dos três pilares (ESG) da sustentabilidade dentro de sua estrutura. Com a incorporação dos pilares da sustentabilidade, as organizações tem se atentado ao impacto ambiental de duas atividades, com isto buscando gerir de maneira mais eficiente seus recursos naturais. Para gestão eficiente da água têm se adotado medidas de conservação e uso de fontes alternativas potáveis e não potáveis de maneira a reduzir as pressões ambientais nos mananciais urbanos e garantir maior equilíbrio aos usuários de água na bacia. A incorporação de técnicas Net Zero vem de encontro a este conceito, e tem sido cada vez mais utilizada nas grandes organizações.

Como consultora e relevante experiência no setor da construção civil, o que espera das iniciativas de sustentabilidade para esse segmento?

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

Espera-se que com o desenvolvimento de novos materiais e processos o setor da construção evolua com o uso mais eficiente da água. Outro ponto é a criação de incentivos fiscais para edifícios certificados (Green Building), como o IPTU Verde. Espera-se que estes incentivos fomentem ainda mais a construção sustentável.

Poderia contextualizar um panorama geral das “pegadas” existentes, e a expectativas do progresso das mesmas?

Engª. Virgínia Dias de Azevedo Sodré

No geral as empresas com base no ESG, têm começado a colocar o meio ambiente no centro dos seus negócios, e começamos ainda de forma tímida a observar ações para neutralização da pegada ambiental das suas operações. 

Quando estamos falando da pegada hídrica, temos que destacar que é urgente a busca por soluções mais resilientes e que tragam a neutralidade desta pegada, uma vez já estamos vivenciando eventos extremos nos grandes centros urbanos, sejam estes de escassez de água ou de excesso de chuva. Precisamos trabalhar com infraestruturas que tragam resiliência para os empreendimentos, incorporando novos projetos e soluções que utilizem o recurso de maneira eficiente. O risco de escassez hídrica deve ser encarado como fator estratégico para o negócio, sem água não há obra, não há edificação e nem conseguimos prover a operação de um edifício. Temos que entender a importância do planejamento da obra, da definição do projeto, da escolha dos materiais que serão utilizados de forma a reduzir a pegada hídrica, trazendo medidas de conservação de água para as obras e edificações, adotando estratégias de consumo eficiente, para redução da pegada hídrica.

Atualmente, simulamos e trazemos para os nossos clientes a importância de trabalharmos com projetos de infraestruturas que estejam preparadas e adaptadas para responder aos atuais impactos climáticos, que já são uma realidade nas áreas urbanas. Acreditamos que um projeto resiliente deva trabalhar com uma gestão sistêmica e integrada da água. Este tipo de visão deve crescer muito nesses próximos anos, uma vez que precisamos urgentemente de infraestruturas mais resilientes, adaptadas para atuarmos em cenários cada vez mais críticos nos grandes centros urbanos.