Richard R. Springer

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

Sócio-diretor da Chaguri Engenharia

Fale um pouco de sua experiência, onde se formou, quanto tempo no mercado, a empresa, principais projetos, etc.

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

Eu iniciei minha atividade profissional em 1996, aos 15 anos de idade, ao ingressar no Colégio Técnico Federal de São Paulo (atualmente Instituto Federal de São Paulo), em uma empresa instaladora chamada AK Engenharia, com atuação em instalações de sistemas prediais de grandes edifícios.

Em 2000 ingressei na Escola de Engenharia Mackenzie, cursando Engenharia Civil. Neste período trabalhei por dois anos com sistemas de aquecimento de água, na Caltherm (empresa do meu pai, Engº J. Jorge Chaguri), participando da área de projetos, instalação e manutenção de sistemas de aquecimento. Em 2002 fui trabalhar na Usina Termoelétrica Piratininga, na EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia de São Paulo), onde tive a oportunidade de trabalhar na operação desta Usina, acompanhando a conversão das caldeiras de óleo combustível para gás natural, a construção e o comissionamento de 4 novas turbinas a gás, e a interligação das novas turbinas com a unidade antiga, formando uma das primeiras Usinas de Ciclo Combinado no Brasil. Neste período eu tive um aprendizado muito intenso em Ciclos Termodinâmicos, na teoria e na prática.

Me formei em Engenheiro Civil em 2005 e, em função do trabalho de conclusão de curso sobre sistemas de cogeração a gás aplicado a edificações residenciais, fui convidado para fazer o Mestrado em Ciências, com ênfase em Energia, no Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, iniciado em 2006 (concluído em 2009). Neste período, fui transferido da operação da Usina para a área de treinamentos de operadores e, em seguida, para a Engenharia Civil, cuidando dos projetos relacionados ao Rio Pinheiros, Tietê, represa Guarapiranga e Billings, ficando na empresa até 2009. 

Em 2006 foi criada a Chaguri Engenharia, que tinha como foco o desenvolvimento de sistemas de medição remota de água e gás, consultoria em Normalização e processos de Sistemas Prediais, desenvolvimento de projetos de pesquisa junto à Universidade, projetos de sistema de aquecimento e gestão de sistemas termo-hidráulicos, com trabalhos na área de eficientização de sistemas de aquecimento de água, onde atuo até o momento.

Quais as definições básicas para um sistema de aquecimento termo- hidráulico?

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

Podemos considerar um sistema termo-hidráulico composto basicamente de três elementos, seguindo uma nomenclatura parecida com os sistemas elétricos, sendo a geração de energia (calor), a transmissão desta energia térmica para a entrada de todas as unidades consumidoras, e a distribuição de água quente dentro das unidades de consumo.

Dentro de cada elemento podemos ter diversos meios e fontes de energia para geração de calor, e diversas configurações e tipologias para a transmissão, distribuição, medição, controle e etc.

Quais os tipos de sistemas prediais de aquecimento existentes no mercado?

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

É difícil definir todos os tipos de sistemas de aquecimento existentes atualmente, e as metodologias que poderiam classificar esses tipos, mas atualmente separamos os sistemas de aquecimento entre sistemas individuais, onde cada ponto de consumo possui um aquecedor de água (exemplo chuveiros elétricos), sistemas centrais privados, onde há pelo menos um aquecedor concentrado em uma unidade privativa atendendo a diversos pontos de consumo ao mesmo tempo (exemplo aquecedores de passagem a gás, reservatórios a gás, reservatórios elétricos e etc.), e sistemas centrais coletivos, onde há um conjunto de equipamentos que fornecem água quente para diversas unidades privativas.

Apesar da divisão desses 3 elementos básicos, podemos ainda classificá-las com relação ao tipo de geração de calor (tipo passagem ou de acumulação), tipo de distribuição de água quente (direto ou indireto), energia no processo de geração (solar, gás, elétrico, aproveitamento de rejeitos e etc), tipo de recirculação (direta e indireta) e etc.

Pode fazer uma pequena comparação entre os sistemas de aquecimento existentes, elétrico, a gás e solar?

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

Considerando a aplicação dos sistemas de aquecimento em edificações multifamiliares, o sistema de aquecimento solar pode ser considerado como um economizador de energia, onde será obtido o pré-aquecimento da água destinada ao consumo. Dependendo das características do projeto, e da relação de área de coletores solares com a demanda da edificação, é possível o funcionamento cada vez menor do sistema de aquecimento complementar. Em apenas algumas regiões no Brasil (com temperaturas ambiente favoráveis) é possível obter uma geração de calor proveniente somente do sistema de aquecimento solar sem a necessidade de complementação.

Em geral, a maior parte das edificações demandam uma complementação do sistema de aquecimento, podendo ser através de aquecedores a gás ou aquecedores elétricos. Há muitas opções de sistemas, contemplando esses dois energéticos, e cada um deles têm seus prós e contras vinculado à tipologia da edificação. Quando é feito um estudo inicial de um empreendimento é desenvolvida uma “matriz de análise de decisão” contemplando as opções de sistemas de aquecimento, e a vantagens e desvantagens de cada uma delas, vinculado a diversos aspectos, que podem envolver custo de obra, simplicidade de instalação, facilidade de manutenção, custo de operação e etc.

Como podemos aferir o custo-benefício dos sistemas?

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

O custo-benefício de cada sistema deve ser avaliado conforme a tipologia da edificação, considerando os diversos aspectos de análise. Importante analisar que nem sempre o benefício (que pode ser resultado de economia) ocorre para quem faz o investimento. Atualmente os projetos possuem mecanismos sofisticados que permitem um controle mais preciso sobre a expectativa de desempenho do sistema, e o controle das centrais de água quente pelos usuários.

Quais são os cuidados básicos exigidos na instalação de sistemas prediais de água quente?

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

Na instalação dos sistemas prediais de água quente os maiores cuidados estão relacionados à prevenção do mau uso pelos usuários, onde incorporamos elementos que, em caso de instalação de aparelhos inadequados, esses elementos não gerem patologias na edificação. Além disso, como temos feito o controle dos sistemas de aquecimento no pós-obra, temos considerado a prevenção de Patologia nos projetos para evitarmos o risco de falhas durante o uso. Atualmente, após a instalação do sistema de aquecimento, tem-se recomendado a execução de testes de desempenho, antes da entrega da edificação, de forma a avaliar o desempenho real do sistema instalado, comparando os dados obtidos com a expectativa esperada, evidenciando a adequação para o uso esperado.

Quais as principais patologias e como evitá-las?

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

Nos sistemas prediais de água quente as principais Patologias estão relacionadas à ausência de manutenção preventiva, que temos buscado orientar os condomínios sobre a importância destas atividades e, em muitas vezes, já entregando o contrato na entrega do empreendimento, sobre variações de água quente e fria vinculado à instalação de aparelhos que podem gerar essa mistura dentro das unidades, que resolvemos com a previsão de válvulas de retenção junto à previsão dos medidores de água fria e quente, o acúmulo de ar na rede vinculado à possíveis sifões existentes na rede, que resolvemos com a implementação de válvulas eliminadoras de ar nos pontos previamente identificados, e o alto consumo de gás devido a ausência de manutenção e controle do sistema que, neste caso, temos buscado incentivar os condomínios a olhar com mais cuidados para os seus consumos, instalando medidores de água quente para permitir o rateio da energia de forma mais adequada, acompanhar os consumos e suas variações sazonais e etc.

Quais as tendências de sistemas de aquecimento para edifícios nos próximos anos?

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

Vejo nos sistemas centrais coletivos a grande tendência para as edificações, pois conseguimos centralizar todos os equipamentos em um único espaço, facilitando o controle de manutenção e segurança dos equipamentos, e reduzindo a infraestrutura da edificação. Além disso, os sistemas centrais permitem a conexão com diversos elementos que podem contribuir para a eficiência e redução de consumo, tais como sistema de aquecimento solar, cogeração a gás, bombas de calor elétrica, aproveitamento de rejeito de calor de aparelhos de climatização, sistemas geotérmicos e etc.

Complemente com um comentário que julgue necessário ser considerado.

Eng. José Jorge Chaguri Jr.

As novas edificações demandam cada vez mais a necessidade de um apoio técnico aos usuários para o uso de operação dos sistemas cada mais complexos desenvolvidos, permitindo que todo o desempenho projetado e esperado seja realmente concretizado. Essa “ponte” entre a expectativa de projeto, e o uso real da edificação carece de técnicos que possam fazer o gerenciamento dos sistemas prediais, garantindo a qualidade, segurança, eficiência e desempenho da edificação.