O Que é um Projeto?

Data de publicação : 05/02/2018

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da Universidade Trisul

 

Existem várias formas de se definir um projeto de construção de edifícios, todas corretas, dentro de seus respectivos contextos.

O projeto pode ser pensado como a montagem do empreendimento, a definição de um produto e dos meios para viabilizar a sua produção, desde sua concepção e viabilização econômico-financeira, até sua comercialização, construção e entrega ao proprietário ou proprietários. Nesse sentido, “projeto” é sinônimo de “empreendimento” e a sua gestão está a cargo dos empreendedores que, no caso do mercado imobiliário, são denominados “incorporadores”.

No entanto, se for considerado o ponto de vista da construtora, a própria execução das obras pode ser tratada como um projeto.
Uma terceira definição, que é a mais usada de modo geral, é o entendimento do projeto como um conjunto de informações técnicas para definição detalhada das características do produto e do processo de produção desse mesmo produto de construção. Essa acepção da palavra “projeto” é aquela que interage com as outras duas aqui citadas, nos ambientes de incorporação e de execução das obras de construção. A incorporação e a construção dependem e interagem com o projeto, cuja qualidade é fundamental para os resultados a serem obtidos por ambos.

Para se caracterizar o processo de projeto, devem ser discriminadas as suas principais características, envolvendo principalmente: partes que compõem o projeto, responsabilidades, coordenação, tecnologias de projeto e de gestão de projetos.

2. As Partes que Compõem um Projeto

Tomando-se a última definição apresentada para o projeto, podemos decompô-lo de diversas maneiras. A seguir, algumas dessas possibilidades são apresentadas.

2.1 Disciplinas do projeto

Um projeto de construção de edifícios, dada a sua característica multidisciplinar, será desenvolvido por um conjunto de profissionais ou empresas, contendo várias disciplinas no âmbito da Arquitetura e da Engenharia, além de eventuais outras especialidades, conforme o caso. São exemplos dessas várias disciplinas e especialidades:
Arquitetura (Geral); Interiores; Paisagismo; Luminotécnica; Conforto Térmico; Acústica; Estruturas; Fundações e Contenções; Sistemas Hidrossanitários; Sistemas Elétricos e de Comunicação; Sistemas Mecânicos; Automação Predial; Climatização; Segurança; Vedações; Fôrmas e Escoramentos; Impermeabilização; Revestimentos; Esquadrias; Consultoria de Custos; Consultoria de Sustentabilidade; Consultoria de Processos Construtivos; etc.

2.2 Fases do projeto

No setor imobiliário, a forma mais adequada de se dividir o projeto em fases sucessivas foi apresentada pelos Manuais de Escopo de Serviços de Projeto e de Coordenação de Projetos (http://manuaisdeescopo.com.br/), fases estas resumidas abaixo:

  • FASE A – CONCEPÇÃO DO PRODUTO
    Levantamento e definição do conjunto de dados e de informações que objetivam conceituar e caracterizar perfeitamente o partido do produto imobiliário e as restrições que o regem, e definir as características demandadas para os profissionais ou empresas de projeto a contratar.
  • FASE B – DEFINIÇÃO DO PRODUTO
    Consolidação do partido do produto imobiliário e dos demais elementos do empreendimento, definindo todas as informações necessárias à verificação da sua viabilidade técnica, física e econômico-financeira, assim como à elaboração dos projetos legais.
  • FASE C – IDENTIFICAÇÃO E SOLUÇÃO DE INTERFACES DE PROJETO
    Conceituação e caracterização de todos os elementos do projeto do empreendimento, com as definições de projeto necessárias a todos os agentes nele envolvidos, resultando em um projeto com soluções para as interferências entre sistemas e todas as suas interfaces resolvidas, de modo a subsidiar a análise de métodos construtivos e a estimativa de custos e prazos de execução.
  • FASE D – DETA LHAMENTO DE PROJETOS
    Desenvolvimento do detalhamento de todos os elementos de projeto do empreendimento, de modo a gerar um conjunto de documentos suficientes para perfeita caracterização das obras e serviços a serem executados, possibilitando a avaliação dos custos, métodos construtivos e prazos de execução.
  • FASE E – PÓS-ENTREGA DE PROJETOS
    Garantir a plena compreensão e utilização das informações de projeto e a sua correta aplicação e avaliar o desempenho do projeto em execução.
  • FASE F – PÓS-ENTREGA DA OBRA
    Avaliação e retroalimentação do processo de projeto, envolvendo os diversos agentes do empreendimento e gerando ações para melhoria em todos os níveis e atividades envolvidos.

2.3 Produtos e meios de representação do projeto

Como produto do desenvolvimento das fases de projeto mencionadas acima, são entregues, pelos projetistas e demais profissionais envolvidos, uma série de produtos como os seguintes:

  • Programa de Necessidades (PN)
  • Estudo Preliminar (EP)
  • Anteprojeto (AP)
  • Projeto Legal (PL)
  • Projeto Básico ou Pré-Executivo (PB)
  • Projeto Executivo (PE)
  • Projeto para Produção (PP)
  • Projeto “As-Built” (AB)

Esses produtos podem estar representados por meio de arquivos digitais de texto, imagens, planilhas, desenhos ou ainda por modelos, como será comentado mais adiante na seção “Tecnologias de Projeto e de Gestão de Projetos”.

Dentro de uma empresa incorporadora e construtora, um departamento ou área responsável pelos projetos será encarregado de gerir o processo de projeto em suas diversas fases, sempre em consonância com as diversas outras áreas envolvidas, dado que o projeto apresenta múltiplas interfaces com seus diversos clientes internos e externos, quais sejam:

  • área de produto;
  • comercial e vendas;
  • planejamento;
  • orçamento;
  • personalização de unidades;
  • coordenação de obras;
  • qualidade;
  • segurança;
  • assistência técnica;
  • entre outros.

3. Coordenação e Compatibilização de Projetos

3.1 Papel da coordenação de projetos

A coordenação de projetos envolve funções gerenciais, com o intuito de fomentar a integração e a cooperação dos agentes envolvidos e funções técnicas, relacionadas com a solução global dos projetos e a integração técnica entre as diversas disciplinas de projeto, e entre o projeto e a execução das obras.

É importante esclarecer a diferença entre coordenação e compatibilização de projetos. A coordenação envolve a gestão das interações entre os diversos projetistas desde as primeiras atividades do processo de projeto, no sentido de discutir e viabilizar as soluções para o projeto, mas sempre existe a possibilidade de discrepâncias ou incoerências entre as informações produzidas por diferentes disciplinas. Na compatibilização, os projetos das várias disciplinas são superpostos para verificar as interferências entre eles, e os problemas são evidenciados para que a coordenação possa agir sobre eles e solucioná-los.

3.2 Responsabilidades e perfil do coordenador de projetos

As responsabilidades típicas do coordenador de projetos envolvem iniciar o processo de projeto, planejar o processo, gerenciar a equipe de projeto, garantir a compatibilidade entre as soluções dos vários projetistas e controlar os fluxos de informações entre projetistas.

O coordenador de projetos é o principal agente na gestão do processo de projeto e tem como principais atribuições realizar e fomentar ações de integração entre projetistas, coordenar e controlar os projetos e as trocas de informações, para garantir que o processo de projeto ocorra da forma planejada e cumpra os prazos e objetivos estabelecidos.

Independentemente de a coordenação estar a cargo do arquiteto autor do projeto, ou o coordenador fazer parte dos quadros internos da incorporadora ou da construtora, ou ainda, ser contratado como um terceiro, o escopo de coordenação de projetos será essencialmente o mesmo. O Manual de Escopo de Serviços de Coordenação de Projetos define tal escopo, detalhadamente e por fase do projeto.

O coordenador de projetos utiliza habilidades administrativas e de liderança para poder gerenciar equipes multidisciplinares de projetos. Além disso, o coordenador deve ter um amplo conhecimento relativo às diversas especialidades de projeto e é de extrema utilidade que conheça técnicas construtivas e possua experiência quanto à execução de obras.

O perfil do coordenador de projetos, portanto, inclui alguns conhecimentos e habilidades específicos, muito relevantes para o bom exercício das suas atividades:

CONHECIMENTOS DESEJÁVEIS

  • sobre técnicas e processos de projeto pertinentes às várias disciplinas envolvidas;
  • sobre normas técnicas, legislação federal, estadual ou municipal, códigos de construção e padrões das concessionárias;
  • sobre tecnologia construtiva em curso e inovações tecnológicas;
  • sobre técnicas de planejamento de projetos;
  • sobre tecnologia da informação e da comunicação.

HABILIDADES DESEJÁVEIS

  • espírito de liderança;
  • facilidade de comunicação;
  • disciplina para sistematizar e documentar as reuniões com projetistas e as trocas de informação;
  • atenção aos detalhes e capacidade de avaliar a qualidade das soluções e a compatibilidade entre as várias partes do projeto.

4. Tecnologias de Projeto e de Gestão de Projetos

O processo de projeto pode ser caracterizado como intensivo em conhecimento e seu principal “insumo” é certamente a competência do projetista. Apesar disso, uma série de dispositivos e “tecnologias” sempre foi usada para dar suporte aos projetos. As técnicas e ferramentas de desenho são exemplos de mecanismos que interagem com as práticas de projeto e, atualmente, novas tecnologias de informação (TI) têm um impacto no processo de projeto muito mais contundente e significativo.

Na década de 90, foram introduzidas as ferramentas digitais para representação de projetos, com uma série de programas de CADD – Computer Aided Draft and Design, além de modeladores de imagens, programas mais avançados para cálculos de estruturas e de sistemas prediais, entre outros.

Mais tarde, nos anos 2000, iniciou-se o uso mais frequente de sistemas de gerenciamento e armazenamento de documentos de projetos, graças às novas possibilidades de telecomunicações e integração à distância. O avanço da telecomunicação associada à informática tornou cada vez mais frequente a montagem de redes de colaboração entre profissionais e pessoas geograficamente distantes.

E, por último, com intensidade crescente na década de 2010, foi disseminado o uso de BIM – Building Information Modelling, que tem trazido novas possibilidades de antecipação e integração entre etapas do projeto e do empreendimento, valorizando ainda mais as competências de projetistas e gestores, exigindo deles uma capacidade técnica e compreensão de processos bastante ampliadas, em comparação com as fases anteriores.

O BIM, ou Modelagem da Informação da Construção é um conjunto de ferramentais e de técnicas que permitem agregar informação aos objetos incorporados aos projetos. Essas informações podem ser focadas em uma ou mais fases do ciclo de vida do empreendimento de construção. Por isso, entre outros itens, é importante que os contratantes de projetos definam previamente:

  • como a Modelagem será inserida no processo de projeto atual, o que pode exigir adaptação e evoluções desse processo;
  • quais são os objetivos da Modelagem, o que se pretende extrair dos modelos;
  • quais as competências e habilidades exigíveis dos projetistas, coordenadores e compatibilizadores, apenas para citar os principais envolvidos envolvidos;
  • quanto se pretende investir na Modelagem, seja em equipamentos e softwares, seja em contratação ou capacitação de profissionais, e de que formas esse investimento proporcionará o alcance dos objetivos dos projetos.

Em qualquer hipótese, as Tecnologias BIM já são consideradas o novo padrão para projetos de edifícios no Brasil e tendem a ter seu uso a cda dia mais ampliado e frequente.

Currículo Resumido

Silvio Melhado é graduado em Engenharia Civil e cursou mestrado e doutorado em Engenharia Civil, todos pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, além de ter realizado pós-doutoramentos na França, no Canadá e na Inglaterra. Atualmente é Livre-Docente e Professor Associado 3 da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Engenharia de Construção Civil, com ênfase em construção de edifícios, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão do processo de projeto, gestão de empresas de projeto, gestão da qualidade, sistemas de gestão e certificação de sistemas.

Foi Coordenador Nacional do Grupo de Trabalho “Qualidade do Projeto” da ANTAC (Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído) e atua como Co-Coordenador da Comissão Internacional “Architectural Management” (W96) do CIB (International Council for Research and Innovation in Building and Construction).

(Fonte: Currículo Lattes – http://lattes.cnpq.br/6957733339061299)